domingo, 25 de março de 2007
..continuando a história...
Escoteiros gaúchos já encararam tufão no Japão e bateram queixo no frio da Antártica, mas é dentro das fronteiras do Estado que enfrentam a mais árdua dificuldade das últimas décadas. Com 7,1 mil membros, o movimento no Rio Grande do Sul ostenta, no ano do centenário do escotismo, a metade do tamanho que tinha há 14 anos.
As estatísticas expressam uma mudança de comportamento percebida pelos próprios jovens que mantêm viva a iniciativa no Estado - segundo maior reduto de escoteiros do Brasil. Em vez de se aventurar em acampamentos, crianças e adolescentes preferem lotar lan houses e corredores de shoppings aos fins de semana.
- Por desconhecer nossas atividades, muitos amigos acham o escotismo cafona - confirma a estudante Vitória Viegas Damm, 17 anos.
A predileção se explica pelos novos valores da juventude, avalia o psiquiatra e psicanalista José Outeiral. Em sua opinião, os jovens de hoje costumam se voltar para atividades flexíveis nas regras e para práticas que estimulem a espontaneidade - dois aspectos que eles não percebem nos grupos escoteiros.
Com uma filosofia de incentivar o trabalho em equipe, as ações positivas e a preocupação ambiental, o movimento se preocupa em transmitir valores éticos. Há uma década no Grupo Escoteiro Georg Black, o mais antigo em atividade no Brasil, o universitário Luiz Henrique Sommer, 19 anos, recolhe preciosas lições da experiência. Reforçou a consciência social ao auxiliar entidades beneficentes e entendeu a importância dos amigos. Além disso, diverte-se com as atividades.
Como Luiz Henrique, o estudante Raphael Molero Carriconde, 18 anos, fez aventuras em cânions na divisa com Santa Catarina em que testou a sua responsabilidade - e viu a adrenalina subir às alturas. Mas reconhece que não se compara a um outro desafio, enfrentado por membros do grupo nos anos 70. Num acampamento mundial organizado no sopé do Monte Fuji, no Japão, gaúchos enfrentaram um tufão por horas dentro de uma barraca. Sobreviveram porque souberam se proteger com amarras e se agarrar às estruturas.
Líderes procuram maneiras de recuperar visibilidade
Em 1987, os gaúchos realizaram outra proeza em terras inóspitas. O Grupo Escoteiro Silva Paes, de Rio Grande, tornou-se o primeiro a enviar representantes em uma missão oficial à Antártica. O gerente Fábio Moreira da Silva, 35 anos, passou dois dias em meio à neve.
- Usamos roupas especiais da Marinha, o que nos deixou aquecidos. Mas o frio lá é diferente, não tem tanta umidade - relembra Silva.
Experiências como essas levam líderes do movimento a negar a necessidade de mudanças profundas. O diretor-presidente da União dos Escoteiros do Brasil (UEB) no Rio Grande do Sul, Carlos Eduardo Chaise, acredita que as atividades mantêm o atrativo entre os jovens. Para retornar ao topo, ele prega que os escoteiros voltem a ter visibilidade, com atividades de reinserção social.
Presidente de uma associação que nasceu este mês, por divergências de gestão com a UEB, o paulista Mario Greggio acha que não é só isso. Ele defende que o movimento também olhe para a vida urbana e ofereça atividades como empreendedorismo - sem esquecer os conceitos de Baden-Powell.
- Se quisermos concorrer com shopping, não vamos ganhar. Precisamos mostrar que o escotismo ajuda as pessoas a ter sucesso. Um comportamento ético só se ensina na educação não-formal - defende.
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